Por Gilian Cidade* e Matheus “Gordo”**
“Fortunati, seu salafrário, esse aumento
é o lucro do empresário”
Estamos chegando ao fim da semana
em que Porto Alegre completou 241 anos, mas infelizmente a juventude e a
população trabalhadora não tem nada a comemorar. Na última quinta-feira (25), o
vice-prefeito Sebastião Melo “presenteou” os empresários do transporte público
ao assinar o aumento de 7,02% no valor das tarifas, contrariando as reivindicações
do movimento estudantil, sindical, popular e também do Tribunal de Contas do
Estado (TCE) e o Ministério Público de Contas (MPC), que indicavam a
possibilidade de redução do valor das tarifas de R$ 2,85 para R$ 2,60.
Logo no início de 2013, Fortunati
ataca o bolso da população. Entre 1994 e 2012, a tarifa de ônibus em Porto
Alegre subiu 670% enquanto a inflação foi de 310%. Com o aumento ficou
escancarado o lobby existente entre a prefeitura e os empresários, pois a
proposta aprovada partiu da própria Empresa Pública de Transporte e Circulação
(EPTC). O relatório divulgado pelo TCE aponta que os lucros das empresas de
transporte público são abusivos. Ao mesmo tempo, a luta dos rodoviários que
defende a redução da tarifa, aumento salarial e melhores condições de trabalho,
é a prova de que não há retorno para os trabalhadores sobre o valor das
passagens. A realidade é que o transporte público de qualidade, que deveria ser
direito da população, foi transformado em mercadoria e virou um direito de
poucos!
“Que sacanagem, querem pagar a Copa com
o aumento das passagens”
Porto Alegre foi tomada por
manifestações durante a semana. Segunda-feira, o Grêmio do Julinho promoveu uma
caminhada com cerca de 200 estudantes. À noite, os estudantes da PUC trancaram
parcialmente a Av. Ipiranga durante 3h. Entendemos que é legitimo o ato de
trancar as ruas da cidade, pois é uma forma de chamar a atenção da população
para o que está ocorrendo, já que a prefeitura se nega a debater. Os efeitos
dos engarrafamentos não se comparam ao déficit no bolso da família
trabalhadora, que agora paga a passagem mais cara entre as capitais do Brasil.
Ainda na noite da segunda, mais de 100 estudantes saíram do Campus do
Vale/UFRGS, na Av. Bento Gonçalves e se somaram ao ato da PUC, numa caminhada
de cerca de 6km.
A quarta-feira foi o segundo dia
de protesto da semana. Pela manhã, os estudantes da Zona Norte, da Escola
Godói, saíram às ruas em direção à prefeitura. A Av. Farrapos ficou trancada e
os estudantes receberam o apoio da população. Ao chegar em frente a prefeitura,
o ato independente e combativo dos secundaristas, do qual a ANEL fazia parte,
se chocou com a manifestação da Jornada de Lutas da Juventude Brasileira,
organizada pela UNE, UBES e outras entidades. Por mais que hoje essas entidades
se coloquem no campo de oposição a Prefeitura Municipal, não podemos esquecer
que quando PT e PC do B eram governo elas se calavam ano após ano frente aos
aumentos no preço das passagens. Além disso, as manifestações da Jornada não tem
articulação nenhuma com o Bloco de Lutas pelo Transporte Público, estão
completamente comprometidas com a política do Governo Dilma e a defesa dos
megaeventos (Copa do Mundo, Olimpíadas), cujos efeitos estão causando o aumento
da criminalização da pobreza e dos movimentos sociais.
Mas o grande momento foi a
manifestação unificada, que ocorreu na noite de quarta-feira. Pouco a pouco a
juventude foi se aglutinando, demonstrando claramente o acúmulo das últimas
manifestações. No início eram centenas, mas a própria Polícia Militar (PM) confirma
a presença de mais de duas mil pessoas na manifestação, o maior ato desde 22 de
janeiro, quando iniciou o movimento. A revolta se expressava nas palavras de
ordem “que sacanagem, querem pagar a copa com o aumento das passagens”, “para
trabalhar e estudar, mais um aumento não vai pagar”, “estudante na rua,
Fortunati a culpa é tua”.
O protesto tomou tamanha
proporção que o cordão da Guarda Municipal (GM) não impediu que a manifestação
chegasse a porta da Prefeitura, onde os manifestantes entoavam os gritos “abre
a casa do povo” e “a prefeitura é nossa”. A PM jogou bombas de efeito moral e a
GM prendeu a coordenadora do DCE/UFRGS, Luany Barros, que segundo relatos foi
encontrada algemada e jogada no chão. A marcha seguiu parando as principais
ruas do centro da capital, até o Palácio da Polícia, onde o movimento fez
pressão para que a companheira fosse libertada.
Com relação a revolta dos manifestantes
que ocorreu em frente à Prefeitura após a detenção da companheira, entendemos
como uma ação espontânea que partiu da juventude que não é ouvida e tem seus
direitos cada vez mais restringidos na cidade. A orientação da Comissão
Organizadora do ato, da qual fazemos parte, não apontava para essas
iniciativas. Desde janeiro buscamos disputar a consciência da população para um
posicionamento contrário a atual política de Fortunati para o transporte
público, mas infelizmente a prefeitura virou as costas para o movimento social,
aumentando cada vez mais a revolta da juventude e dos trabalhadores. Visando
preparar a cidade para a Copa do Mundo, a prefeitura tem levado a cabo inúmeras
obras na cidade que nada têm beneficiado a população. O aumento da passagem
arranca o dinheiro da juventude e beneficia os donos das empresas de ônibus, garantido
ao prefeito, o financiamento de sua iniciativas pró-capital.
Fortalecer as mobilizações e unificar as
lutas no Congresso da ANEL, para conquistar o Passe Livre Nacional!
Nós da ANEL estivemos presentes em
diversas mobilizações contra o aumento das passagens em outras capitais, como
Natal e Teresina, onde o movimento conquistou a revogação dos aumentos. Há um
colapso do transporte público no Brasil, além de sucateado e superlotado, esse
serviço essencial está cada vez mais caro, restringindo o acesso da juventude à
educação, lazer e cultura. Defendemos a estatização do transporte público e o
passe-livre para estudantes e desempregados em todo o país.
Para impulsionar essa luta, queremos
convidar à todos e a todas que são
assaltados diariamente ao pagar a passagem, a participarem do II Congresso da
ANEL (de 30 de maio a 2 de junho em Minas Gerais). Um Congresso independente e
combativo, que vai reunir jovens indignados de todo o Brasil, que querem construir
o novo movimento estudantil, de forma democrática, ligado às lutas e
mobilizações cotidianas pelo direito ao futuro da juventude, porque se não nos deixam sonhar, não os deixaremos
dormir.
*Gilian Cidade é da Comissão Executiva Nacional da ANEL
** Matheus “Gordo” é Coordenador Geral do DCE/UFRGS e da Executiva
Nacional da ANEL