*Por Matheus Gomes
O ano de 2014 iniciou na tarde desta quinta (23.01) do ponto de vista das lutas populares em Porto Alegre. A manifestação convocada pelo Bloco de Lutas foi uma importante demonstração de força dos movimentos sociais e confirmou a tendência de grandes mobilizações nesse ano, que já se expressou em outras capitais como o Rio de Janeiro e Natal. Foram cerca de duas mil pessoas que participaram do ato, ainda longe das dezenas de milhares de junho, mas também muito distante dos 300 que iniciaram as manifestações em 2013.
A mobilização também demonstrou um crescimento do questionamento à realização da Copa do Mundo no Brasil. Está claro para a população que o legado do megaevento não passará das grandes arenas, pois as obras de mobilidade urbana e os benefícios prometidos até agora não saíram do papel. A rejeição à transferência de verba pública para a construção de estádios se expressou na palavra de ordem “quero transporte, saúde e educação, da Copa eu abro mão”. Com relação ao problema da moradia e das remoções forçadas, o ato contou com a presença importante dos moradores da Comunidade 7 de Setembro, da zona norte da capital. Por diversas vezes a marcha entoou os gritos “não vai ter Copa, vai ter luta” ou “foda-se a Copa”.O transporte público e as injustiças da Copa do Mundo foram os motores da mobilização. Diante do provável reajuste no valor das tarifas exigido pelos empresários o movimento deu uma resposta contundente e afirmou: não vai ter aumento! Além disso, o Bloco de Lutas reacendeu o debate sobre o passe livre municipal para estudantes, desempregados, indígenas e quilombolas e também questionou a nova licitação que visa manter o controle do transporte nas mãos dos empresários com a pauta do “transporte 100% público”. Novamente ouvimos palavras de ordem como “se a passagem aumentar, Porto Alegre vai parar”, “Fortunati ladrão, mais um aumento não” e “somos o povo e o passe livre os ricos vão pagar”. Mas existe outra semelhança com as lutas de 2013: a mobilização da categoria dos rodoviários. Enquanto estávamos nas ruas do Centro, motoristas e cobradores realizavam uma grande assembleia no Ginásio Tesourinha, que deliberou pelo início de greve na próxima segunda-feira, em defesa do reajuste salarial de 14% e outras pautas históricas como a redução da jornada de trabalho, aumento do ticket refeição e a manutenção do plano de saúde. A unidade entre o Bloco e os rodoviários deve se desenvolver novamente.
Mas, um dos efeitos da Copa do Mundo foi sentido ao final da marcha: o aumento da criminalização dos movimentos sociais. A Brigada Militar optou por não intervir durante o protesto, nem diante da ação de alguns grupos adeptos da tática Black Block. Mas, no momento da dispersão, dezenas de manifestantes que saíam de forma organizada foram abordados ostensivamente pela BM. Mochilas no chão, jovens na parede e muita intimidação por parte da BM. Até o momento não temos o número exato das detenções que ocorreram no ato, mas segundo o relato de manifestantes que estavam próximos ao cruzamento das ruas José do Patrocínio com Borges de Medeiros, jovens que estavam caminhando na calçada foram abordados e levados ao camburão. Essa é a tendência por parte dos governos: reprimir para derrotar os movimentos sociais. Alguns deputados e senadores começaram a defender penas de 15 a 30 anos para quem se manifestar durante a Copa. As novas legislações já começaram a vigorar e dão respaldo a ações truculentas da Brigada Militar.
O movimento terá novo encontro na terça-feira (28) na assembleia do Bloco, com local a ser definido e divulgado. Na próxima sexta-feira (31), a presidenta Dilma estará em Porto Alegre inaugurando o Estádio Beira-Rio, como foi anunciado nesta quinta. Existe a possibilidade de uma nova manifestação nessa data.
*Matheus Gomes é militante da ANEL e constrói o Bloco de Luta pelo Transporte Público de Porto Alegre.
Fonte: Sul21
*Matheus Gomes é militante da ANEL e constrói o Bloco de Luta pelo Transporte Público de Porto Alegre.
Fonte: Sul21