31 de jul. de 2011

Raça e Classe




Somos milhões de negros e negras espalhados por esse planeta e esse país, mas nossa negritude não é acéfala e nem a-histórica. Desde que o primeiro de nossos antepassados foi arrancado da África e pisou nesse continente, dizemos: temos negritude! Nossa negritude brotou da necessidade de resgatar a nossa humanidade, e isso só foi possível se rebelando contra o capitalismo escravocrata. Nossa humanidade e nossa negritude nasceram como negação da escravidão e do capitalismo.

Somos homens e mulheres com raça, somos homens e mulheres com classe. Sua igreja criou as bases para justificar nossa condição de coisa. Seus padres, seus Vieiras, seus Antonís disseram que não tínhamos almas. Seus intelectuais negaram nossa humanidade. Mesmo isolados, sós, por conta própria, nunca fomos sectários, construímos alianças com os mais diversos grupos sociais oprimidos. Em nossos quilombos eram bem vindos índios, brancos pobres, prostitutas. O capital nos jogou nos guetos,mas nosso lugar nunca foi esse. Estivemos nos principais movimentos de libertação desse país, fomos balaios, cabanos, malês, farrapos. Nossa consciência negra não abriga falsos heróis que a história dos ricos forjou.

Manuel Beckmam, morto por querer escravizar índios e adquirir negros, não é herói de nossas consciências. Nossa consciência negra não expõe nossas crianças ao sol quente dos desfiles do 7 de setembro para comemorar a independência de um país que manteve a escravidão existindo por mais 66 anos.
 D. Pedros e Izabel’s podem até ser até homenageados com nome de escolas de samba, mas não desfilam na passarela de nossas consciências.   Meu Quilombo tem raça, meu quilombo tem classe. Meu quilombo é o de Luiz Gama é daqueles que se propõe a defender e conceder liberdade ao escravo que ousa enrolar no pescoço do seu senhor as correntes que outrora os aprisionavam.

Nossas menções honrosas são para as milhares de mulheres negras que arrancavam de suas entranhas o filho mestiço fruto do estupro do senhorzinho branco. Maldito sejam eles! Bendito sejam elas! O teu país mestiço, racista, não é fruto de amor, pois minhas bisavós não eram objeto de prazer e nem barriga de aluguel.

 Meu Quilombo, minha negritude, é internacionalista, é de Malcolm, é de Steve Biko, de Wine, das Dandaras. Sou negro sim, irmão do povo líbio, sírio, egípcio, iraquiano, afegão.Minha negritude não suporta ditadura, não suporta opressão.

Sou negro palestino, por que a intifada é negritude, sou negro irmão da classe trabalhadora européia que ora se levanta contra seus governos e patrões. Sim, são meus irmãos, e por que não? Minha negritude é de classe. Sou a prova viva que Huanda, Uganda, Etiópia e todos os meus países africanos que hoje estão mergulhados na barbárie do capitalismo irão se levantar,  irão te destruir, não tenha dúvida imundo mundo capitalista.

Precisamos destruir o sistema que gera o racismo. Sim irmão Malcolm, assim fez os meus irmãos haitianos. Nações brancas, capitalistas, imperialistas, escravocratas, caíram aos pés de nossos irmãos e irmãs do Haiti.  Dessalines,  Tousantine, não é Lula, não é Dilma, não é Obama. Mãos imundas, retirem suas tropas do Haiti. A ONU não representa os interesses do meu povo, A ONU representa os interesses daqueles países que há dois séculos expulsamos da ilha de São Domingos. Meu Quilombo renasce com raça e com classe nos morros ocupados do Rio de Janeiro, nas cadeias superlotadas de presos políticos cor de ébano, nas greves dos canteiros de obras do PAC. Renascemos nas comunidades Quilombolas. No Charco, em Frechal, renascemos como milhares de Flavianos sedentos por justiça, por que nossa negritude é imortal pra você capitalista, pra você latifundiário.

A teu 13 de maio minha consciência opõe o 20 de novembro. Tua abolição concentrou terra, me negou educação, me jogou nas favelas, nos manicômios, nas cadeias. As portas e os muros da tua universidade eurocêntrica irei derrubar um a um, uma a uma, com minha história, minha cultura, minha ciência, minha inteligência que, aliás, não pode ser medida pelo seu padrão individualista de conhecer o mundo, de estabelecer relações sociais. A cultura daquela que tu nega eu reivindico. Sou sim África e daí?  Quero a parte que me cabe, mas não transformar meu direito a educação em uma mercadoria. Quero cotas nas universidades públicas e vou brigar por isso, odeio teu “PRO-UNE” mercadológico. Devolve o que é nosso, meu povo nunca te pediu nada, exigimos, brigamos, morremos, matamos. Minhas irmãs nunca foram dondocas, não querem só igualdade de gênero, aliás, em seu imundo Brasil colonial, estávamos lá lado a lado com nossos irmãos africanos;  nos canaviais, nas senzalas, nos quilombos, sem frescura. Só queimar sutiã não serve pra mim, quero igualdade de classe, mulher que explora não é minha irmã. Meus irmãos e irmãs não oprimem e não  exploram. No sangue de Obama e Condoleza Rice não tem DNA de quilombola e sim de capitão do mato.

Nas minhas veias corre o sangue de Magno Cruz, Zumbi, Anastácia, Firmina, Dandara,  Clóvis Moura, de Silvia Cantanheide.

Estou de volta com Raça e Classe, de volta às ruas, aos becos, as favelas, nas rimas do rap, nas pernadas da capoeira, na ginga do reggae, nas salas das escolas, das universidades, estou de volta não para te reformar capitalismo imundo, não para te humanizar racista democrático, estou de volta para te destruir enquanto estrutura e superestrutura. Meus pêsames, eu sou o germe de tua destruição, meu nome é Movimento Quilombo Raça e Classe.

*Hertz Dias