Por Matheus Gomes - Coordenador do DCE/UFRGS e Nathália Gasparini - Executiva da ANEL-RS
Quando nos deparamos com um conjunto de situações que nos incomodam, sentimos necessidade de agir. Só que quando essas situações estão integradas a um sistema que reage violentamente a qualquer tipo de ação que tenha como meta mudá-lo, a ação se torna mais difícil: é preciso organização, união, solidariedade e certeza daquilo que nos move. Sim, mover-se é uma tarefa imensa. E a juventude e os trabalhadores do mundo todo têm mostrado que a sua garra e disposição são ainda maiores.
E, enfim, os ventos de coragem e ousadia que levou às ruas jovens e trabalhadores gregos, egípcios, líbios, espanhóis, franceses, portugueses, ingleses e tunisianos chegou na América Latina abalando as estruturas desse sistema que nos explora e oprime. O “Paro General” convocado na última semana por estudantes e trabalhadores Chilenos foi uma grande demonstração de força daqueles que hoje, com certeza, são a maior expressão de revolta e indignação contra os governos e patrões em nosso continente. As Centrais Sindicais e Entidades Estudantis afirmaram que mais de 600 mil pessoas estiveram nas ruas do país e cerca de 50% dos servidores atenderam ao chamado da paralisação, número que só não foi maior devido as ameaças repressoras do Governo Piñera.
Porém, o auge da repressão de Piñera veio na madrugada de 26 de agosto. O jovem Manuel Gutierrez, de 16 anos, foi assassinado pela polícia chilena enquanto fazia a vigia em uma das diversas barricadas organizadas na capital chilena. A polícia nega a participação no caso. Mesmo com o apoio de somente 26% da população o Governo parece não querer mudar de postura, mas temos certeza de que a morte de Gutierrez não será em vão. Os que insistem em não aprender com a história estão com os dias contados no Chile.
Em nosso país vivemos uma semana emblemática no terreno das mobilizações e da organização dos estudantes. A juventude brasileira deu provas nítidas de que a identidade ‘acomodada’, que a mídia e o senso comum que aqueles que estão no poder tentam propagar e nos fazer engolir e assumir, é uma tremenda farsa. Hoje, temos a certeza de que SIM, a juventude brasileira ousa lutar e não irá aceitar que o aprofundamento da crise econômica seja despejado nas costas dos trabalhadores e dos jovens.
Assim, na última semana, os lutadores do país, que não pararam um minuto sequer em 2011, conseguiram unir suas pautas em um grande ato unificado que encerrou com chave de ouro a Jornada de Lutas convocada pela CSP-Conlutas, MST, ANDES, ANEL e diversas entidades. Mais de 20 mil pessoas fizeram eco aos gritos que ressoam no mundo todo: não, não pagaremos por essa crise que não é nossa; não, não aceitaremos a precarização da privatização da saúde e da educação; sim, acreditamos que é nas ruas que conquistaremos o direito à riqueza que nós mesmos produzimos. Afinal, se o Brasil cresceu, a juventude e os trabalhadores querem a sua parte do bolo!
No dia seguinte à Marcha, ocorreu a V Assembleia Nacional da ANEL, que contou com a participação de mais de 400 estudantes do país inteiro, fortalecendo uma nova proposta de organização para o Movimento Estudantil brasileiro. Assim como os jovens da Praça Puerto Del Sol em Madrid, a ANEL se organiza em assembleias livres e democráticas, que debatem e organizam as lutas estudantis. E, assim, mais uma vez, o novo pediu passagem: depois de exatamente dois meses da realização de seu 1° Congresso Nacional, a ANEL dá mais uma prova de que para organizar a nossa luta é preciso seguir o exemplo da juventude chilena e europeia. É preciso inovar, com novas formas de organização e de manifestação para reinvindicar os direitos de que há muito a juventude vem sendo privada.
Durante a Assembléia conseguimos constatar: as dificuldades dos estudantes são as mesmas de norte a sul do país. Em todas essas as lutas que iniciam, se expressam as mesmas questões: falta de estrutura e assistência estudantil; em outras palavras, falta de investimento na educação! A cada dia, a necessidade de uma grande campanha nacional pela educação se mostra necessária. Por isso, o centro das discussões da Assembleia foi a campanha 10% do PIB para a educação já!, que vem se tornando a bandeira central de luta dos estudantes de nosso país. E as lutas já começam a tomar forma. Durante a Assembleia, por exemplo, pudemos contar com os relatos dos estudantes da UFPR, que hoje se juntam aos servidores e professores em uma grande greve geral na Universidade, exigindo mais investimento na educação. Além disso, diversas reitorias estão ocupadas país à fora e felizmente muitos desses companheiros como os colegas da UNIFESP, UFF e IFBA estiveram presentes na Assembléia. Até o momento, temos notícias da UFF, UFSC, UNIFESP, UEM, UFES, UFMT, IFBA e esperamos que não pare por aí. Os servidores já estão em greve há mais de dois meses e os professores que já pararam na UFPR fortalecem e impulsionam a campanha salarial a nível nacional.
Se o vento impulsionador de lutas chegou aqui, acreditamos que é preciso fortalecê-lo para que de fato se transforme em conquistas. É preciso que nos organizemos e nos juntemos aos trabalhadores e estudantes que sofrem com as mazelas do capitalismo e vivem diariamente a precarização da educação e do trabalho, assim como nós vivemos. Certamente, juntos somos grandes, do tamanho dessa imensa tarefa. Mais do que aproveitar os ventos, chegou a hora de conduzir a tempestade!