28 de mar. de 2013

Porto Alegre: Revogar o aumento das passagens com a força das ruas!




Por Gilian Cidade* e Matheus “Gordo”**

“Fortunati, seu salafrário, esse aumento é o lucro do empresário”

Estamos chegando ao fim da semana em que Porto Alegre completou 241 anos, mas infelizmente a juventude e a população trabalhadora não tem nada a comemorar. Na última quinta-feira (25), o vice-prefeito Sebastião Melo “presenteou” os empresários do transporte público ao assinar o aumento de 7,02% no valor das tarifas, contrariando as reivindicações do movimento estudantil, sindical, popular e também do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e o Ministério Público de Contas (MPC), que indicavam a possibilidade de redução do valor das tarifas de R$ 2,85 para R$ 2,60.

Logo no início de 2013, Fortunati ataca o bolso da população. Entre 1994 e 2012, a tarifa de ônibus em Porto Alegre subiu 670% enquanto a inflação foi de 310%. Com o aumento ficou escancarado o lobby existente entre a prefeitura e os empresários, pois a proposta aprovada partiu da própria Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC). O relatório divulgado pelo TCE aponta que os lucros das empresas de transporte público são abusivos. Ao mesmo tempo, a luta dos rodoviários que defende a redução da tarifa, aumento salarial e melhores condições de trabalho, é a prova de que não há retorno para os trabalhadores sobre o valor das passagens. A realidade é que o transporte público de qualidade, que deveria ser direito da população, foi transformado em mercadoria e virou um direito de poucos!

“Que sacanagem, querem pagar a Copa com o aumento das passagens”

Porto Alegre foi tomada por manifestações durante a semana. Segunda-feira, o Grêmio do Julinho promoveu uma caminhada com cerca de 200 estudantes. À noite, os estudantes da PUC trancaram parcialmente a Av. Ipiranga durante 3h. Entendemos que é legitimo o ato de trancar as ruas da cidade, pois é uma forma de chamar a atenção da população para o que está ocorrendo, já que a prefeitura se nega a debater. Os efeitos dos engarrafamentos não se comparam ao déficit no bolso da família trabalhadora, que agora paga a passagem mais cara entre as capitais do Brasil. Ainda na noite da segunda, mais de 100 estudantes saíram do Campus do Vale/UFRGS, na Av. Bento Gonçalves e se somaram ao ato da PUC, numa caminhada de cerca de 6km.

A quarta-feira foi o segundo dia de protesto da semana. Pela manhã, os estudantes da Zona Norte, da Escola Godói, saíram às ruas em direção à prefeitura. A Av. Farrapos ficou trancada e os estudantes receberam o apoio da população. Ao chegar em frente a prefeitura, o ato independente e combativo dos secundaristas, do qual a ANEL fazia parte, se chocou com a manifestação da Jornada de Lutas da Juventude Brasileira, organizada pela UNE, UBES e outras entidades. Por mais que hoje essas entidades se coloquem no campo de oposição a Prefeitura Municipal, não podemos esquecer que quando PT e PC do B eram governo elas se calavam ano após ano frente aos aumentos no preço das passagens. Além disso, as manifestações da Jornada não tem articulação nenhuma com o Bloco de Lutas pelo Transporte Público, estão completamente comprometidas com a política do Governo Dilma e a defesa dos megaeventos (Copa do Mundo, Olimpíadas), cujos efeitos estão causando o aumento da criminalização da pobreza e dos movimentos sociais.

Mas o grande momento foi a manifestação unificada, que ocorreu na noite de quarta-feira. Pouco a pouco a juventude foi se aglutinando, demonstrando claramente o acúmulo das últimas manifestações. No início eram centenas, mas a própria Polícia Militar (PM) confirma a presença de mais de duas mil pessoas na manifestação, o maior ato desde 22 de janeiro, quando iniciou o movimento. A revolta se expressava nas palavras de ordem “que sacanagem, querem pagar a copa com o aumento das passagens”, “para trabalhar e estudar, mais um aumento não vai pagar”, “estudante na rua, Fortunati a culpa é tua”.

O protesto tomou tamanha proporção que o cordão da Guarda Municipal (GM) não impediu que a manifestação chegasse a porta da Prefeitura, onde os manifestantes entoavam os gritos “abre a casa do povo” e “a prefeitura é nossa”. A PM jogou bombas de efeito moral e a GM prendeu a coordenadora do DCE/UFRGS, Luany Barros, que segundo relatos foi encontrada algemada e jogada no chão. A marcha seguiu parando as principais ruas do centro da capital, até o Palácio da Polícia, onde o movimento fez pressão para que a companheira fosse libertada.

Com relação a revolta dos manifestantes que ocorreu em frente à Prefeitura após a detenção da companheira, entendemos como uma ação espontânea que partiu da juventude que não é ouvida e tem seus direitos cada vez mais restringidos na cidade. A orientação da Comissão Organizadora do ato, da qual fazemos parte, não apontava para essas iniciativas. Desde janeiro buscamos disputar a consciência da população para um posicionamento contrário a atual política de Fortunati para o transporte público, mas infelizmente a prefeitura virou as costas para o movimento social, aumentando cada vez mais a revolta da juventude e dos trabalhadores. Visando preparar a cidade para a Copa do Mundo, a prefeitura tem levado a cabo inúmeras obras na cidade que nada têm beneficiado a população. O aumento da passagem arranca o dinheiro da juventude e beneficia os donos das empresas de ônibus, garantido ao prefeito, o financiamento de sua iniciativas pró-capital.

Fortalecer as mobilizações e unificar as lutas no Congresso da ANEL, para conquistar o Passe Livre Nacional!

Nós da ANEL estivemos presentes em diversas mobilizações contra o aumento das passagens em outras capitais, como Natal e Teresina, onde o movimento conquistou a revogação dos aumentos. Há um colapso do transporte público no Brasil, além de sucateado e superlotado, esse serviço essencial está cada vez mais caro, restringindo o acesso da juventude à educação, lazer e cultura. Defendemos a estatização do transporte público e o passe-livre para estudantes e desempregados em todo o país.

Para impulsionar essa luta, queremos convidar à todos e  a todas que são assaltados diariamente ao pagar a passagem, a participarem do II Congresso da ANEL (de 30 de maio a 2 de junho em Minas Gerais). Um Congresso independente e combativo, que vai reunir jovens indignados de todo o Brasil, que querem construir o novo movimento estudantil, de forma democrática, ligado às lutas e mobilizações cotidianas pelo direito ao futuro da juventude, porque se não nos deixam sonhar, não os deixaremos dormir.

*Gilian Cidade é da Comissão Executiva Nacional da ANEL
** Matheus “Gordo” é Coordenador Geral do DCE/UFRGS e da Executiva Nacional da ANEL